23 de outubro de 2009

Família em dia

A complexa tarefa de educar filhos discutida por especialistas de diferentes áreas. Educadores, psicólogos, médicos, nutricionistas, psicopedagogos opinam sobre as questões que fazem parte do cotidiano de todos os pais: Como estabelecer limites? Qual a melhor idade para se falar de sexo ? Suco ou refrigerante na merenda? Como calcular uma mesada? Permitir ou reprimir: qual o ponto de equilíbrio ? - e muito mais!

Brincar na estação das águas...

Chove horrores. O que fazer quando o final de semana é assim - chuvoso e cinza - e se tem crianças em casa?

Muitas vezes acabamos recorrendo à velha e “nem tão boa assim” TV. Mas, será que não existe opção melhor do que esta?

Arrumar atividades para entreter as crianças em dias de chuva requer um jogo de cintura e tanto. Nesse momento parece que dá um “branco” e nenhuma ideia surge.

Aliás, nesta hora o máximo que você consegue é listar mentalmente a enorme quantidade de brinquedos que seu filho tem no quarto e ficar sem entender como ele pode não querer se distrair com aqueles objetos fantásticos à sua disposição: ‘tão bonitos, cheios de tecnologia, fazem tudo... Ele só tem que apertar uns botõezinhos’...

Pensamentos reminiscentes passam a tomar conta de você. Na “sua” época os brinquedos eram tão simples e raros... Divertia-se, principalmente, usando a imaginação.

Sim. É ai que mora o segredo! A criança adora os brinquedos eletrônicos, mas também sente necessidade de inventar brincadeiras e exercitar sua fantasia e criatividade. Talvez, neste momento, seu filho esteja precisando, apenas de um “empurrãozinho” para se soltar... E você pode ajudá-lo. Comece relatando as brincadeiras que você fazia na sua infância...

A minha foi em uma pequena cidade do interior de Minas...

Naquela época as brincadeiras infantis sempre se relacionaram com o clima, isto é, com a estação do ano. De acordo com a época uma “onda” varria o nosso território e todos testemunhavam algo irrefutável: é tempo disso, ou daquilo. Em época de vento, empina-se pipa; na seca, disputa-se bolinha de gude; em época de chuvas, joga-se “finca”...

A brincadeira de pipa envolve ventos constantes. Já a bolinha de gude demanda terreno seco, de poeira. A terra molhada cola nas bolinhas e impede seu curso livre. A terra seca, pelo contrário, solta pó de cada lance, sem se grudar.

E o jogo de finca? Você conhece?

Era feito por dois adversários que, com um objeto de ferro pontudo – a finca – fazia-se marcas no chão úmido, riscando de ponto a ponto, de modo a estrangular ou fechar o adversário, impedindo-o de movimentar-se. Daí a necessidade de um terreno bem definido: o chão precisava ter sido recentemente molhado pela chuva. O ideal era que não estivesse nem mole, nem duro, mas consistente o suficiente para segurar o ferro pontudo (ou facas, dependendo do caso) e macio para ser riscado e deixar marcas definidas. A poeira as apagaria e o chão seco faria o ferro pular sem fincar no chão. Tratava-se, na verdade, de um jogo de pontarias certeiras.

Mas para que o jogo pudesse acontecer era necessário um planejamento estratégico anterior. Saíamos à procura de pedaços de ferro de construções. Ao encontrar o material era preciso cortá-lo no tamanho ideal. Depois ficávamos horas e horas afiando-os contra o cimento, até criar uma “bela” ponta.

Era chegado o momento... O jogo se iniciava pela disputa de quem iria jogar primeiro. Para isso riscava-se o chão horizontalmente. Era a demarcação: dali ninguém passa. À frente, numa distância razoável e desafiadora, riscávamos um traço vertical. Os jogadores atiravam suas fincas: quem acertasse no fio do traço ou mais próximo dele começava o jogo. Cada um desenhava sua casa, feita por um triângulo riscado no chão. Começava atirando a finca dentro da casa estabelecendo o ponto inicial. Sem poder ultrapassar aquele ponto e mantendo os pés sempre atrás dele, o jogador tentava atirar sua finca o mais longe possível, em direção à casa do adversário. Se a finca se firmasse no chão, dávamos um risco que ia desse primeiro ponto dentro da nossa casa até o ponto atingido. Se acertasse, não parávamos de jogar, até errar e ceder a vez ao outro. Cada jogador devia, além disso, tentar atingir o ponto o mais próximo da sua linha, tentando fechar os caminhos do adversário e obter sua derrota o mais rápido possível. Ninguém podia cortar linhas. Se alguém contornasse a casa do adversário e chegasse à sua própria casa, era vencedor. Lembro-me de que era permitido furar a linha do outro ou própria por um golpe de lado, cavando uma espécie de subterrâneo, mas sem levantar muita terra, deitar demais a finca ou esburacar os riscados. Era uma verdadeira estratégia de guerra...

O jogo de finca requer um mundo próprio, que deve incluir a temporada de chuvas, a existência de terrenos baldios e a disponibilidade da infância para o tempo livre.

As chuvas continuam, mas os terrenos descobertos estão cada vez mais raros. Porém, o maior empecilho dos dias de hoje diz respeito a infância. O mundo de cultura da infância, com sua memória de invenções populares, encolhe-se cada vez mais.

Penso que nós educadores poderíamos tentar mudar este trajeto. Aventure-se com seu filho nesta tarefa. Como vocês podem ver eu já comecei...

Bom trabalho!

Fonte:http://www2.redepitagoras.com.br/main.asp?TeamID={3A24E1B7-4979-4995-97A3-3C5DC1EECD65}



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